Medicando a normalidade - documentário
Um documentário fundamental para todos os que pretendem utilizar ou já utilizam medicamentos psiquiátricos.
Em 2020 estreiou o documentário “Medicating normal”, produzido e dirigido por Lynn Cunningham e Wendy Ractliffe. Há oito meses, o filme foi disponibilizado no Youtube na íntegra e com legendas em diversos idiomas, incluindo o português do Brasil.
O filme é uma preciosidade, e posto aqui para difundir para todos os leitores desse substack. O documentário acompanha por anos a trajetória de pessoas que foram vítimas das negligências e das fraudes da psiquiatria, sofrendo com efeitos colaterais severos e de abstinência após a retirada da medicação.
Todas as pessoas entrevistadas tiveram os remédios receitados em consultas extremamente curtas, sem nenhum tipo de anamnese feita, para lidar com problemas e angústias da vida: problemas escolares, estresse no trabalho, horários e condições de trabalho precárias, traumas de guerra. Situações que levam à tristeza, angústia, ansiedade. Problemas que são sociais, e não individuais. Problemas que exigem soluções coletivas, e não individuais. E, mesmo quando não possuímos as soluções, devem ser escutados, sentidos, e não soterrados com “pílulas mágicas”. Mas essas pessoas não tiveram a chance de viverem suas dores: foram medicadas, com consequências que as afetam, na maior parte dos casos, até hoje.
Uma adolescente com ansiedade na escola e problemas alimentares acabou internada oito vezes, sofrendo delírios e correndo risco de vida e de auto-mutilação. Uma mulher que fazia turnos de madrugada como garçonete sofria problemas para dormir, e acabou numa abstinência de benzodiazepínicos que a faz sentir coisas rastejando no interior do seu corpo. Uma veterana de guerra que se viu incapaz de chorar a morte de seus colegas. São alguns dos casos que vemos retratados.
O documentário também entrevista alguns dos que estão há anos na luta para denunciar estes crimes, como o médico dinamarquês Peter Gotzsche e o jornalista estadunidense Robert Whitaker, vozes imprescindíveis que estão sempre na bibliografia de meus textos. Outro psiquiatra ouvido é Allen Frances, diretor da força-tarefa do DSM 4 que, em algum momento, achou que a coisa “passou do ponto”, ainda que siga defendendo a indefensável prática psiquiátrica.
O filme deve ser assistido, e seu link está abaixo. Deixo apenas uma fala cortante da mãe de Rebecka, a jovem que, de um episódio de ansiedade passou pelo inferno das internações psiquiátricas graças aos medicamentos que recebeu:
"Fiquei pensando, quando ela nos disse pela primeira vez que estava se sentindo deprimida, que eu nem teria o vocabulário para dizer isso quando tinha a idade dela. Isso já diz um pouco sobre o quão comum isso se tornou em nossa sociedade. Vejo crianças que estão se comportando de forma desajustada ou se sentindo angustiadas. Elas são como os canários na mina de carvão. Sabe, elas estão basicamente gritando: 'Há algo errado.' Mas nós as silenciamos."
(Para ativar as legendas em português clique no ícone da engrenagem do canto direito inferior).